PL 3555/2004 Câmara dos Deputados Veja a íntegra da audiência pública

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O RANKING, O RATING E O SUB PRIME DO MERCADO DE SEGUROS

O mercado de seguros é a ovelha negra do sistema financeiro nacional. O mais atrasado dos mercados, sequer conta com um ranking up to date, um rating com classificação de riscos aceitáveis e conta com uma porção de sub primes, assim entendidos os riscos sub avaliados ou mesmo aqueles sujeitos a preços bem abaixo dos custos, praticados em nome de fatia de market share ou mesmo cobertura de fluxo de caixa.
Ano após ano, se precifica com os olhos voltados para o que ocorre no passado, sem previsibilidade e coragem de se traçar planos de seguros com modelos atuariais complexos. Então o mercado simplesmente não se desenvolve. A criação é execrada em praça pública e a inovação é sempre postergada.
Falta transparência a este mercado! Falta uma agência reguladora profissionalizada!
Sem risco ( o bom risco e não o da transgressão) não há lucro. Esta frase secular que alimenta o capitalismo e forma uma de suas bases, parece não ser muito difundida no mercado que administra riscos. Onde estão os riscos podres, os maiores desencaixes e como eles são cobertos, estes dados permanecem sempre encobertos por uma espessa névoa que nem mesmo a concorrência é capaz de dissipar? Não que não tenham o mapa da mina, mas ao tentar dissipar a névoa do concorrente pode estar provocando a dissipação da sua também.
A grande defasagem de tempo entre as informações fornecidas pelo órgão regulador, a Susep - Superintendência de Seguros Privados e a forma primária como são colhidos, compilados e entabulados, não fornecem a clareza necessária a visibilidade da saúde financeira das seguradoras e suas estratégias de precificação, colocação e rentabilidade. Vou mais longe, nem mesmo a adequação de margens de solvência que estão sendo implementadas contemplam o que estou apontando.
Outro fator que muito influencia este estado de coisas é o grande retorno financeiro que ainda as seguradoras obtém, mascarando resultados que podem ser considerados exuberantes ante os resultados da última década. Quantitativamente podem ser, mas qualitivamente são um desastre. O número de apólices e novos tomadores de seguros não cresce na mesma proporção dos lucros, o que denota uma perda de qualidade na liquidação de sinistros, com fraudes, e, despropositadamente uma operação de estrangulamento dos preços pagos aos reparadores, corretores de seguros e demais prestadores de serviços, representando um tiro no próprio pé, uma vez que quem sente estes efeitos é o consumidor final, o cliente segurado. E o círculo vicioso se completa inibindo a entrada de novos segurados. Cresce o faturamento mas há estagnação no número de apólices e se mascara, com a inclusão de produtos que são mais parecidos com investimentos do que propriamente com a cobertrura de riscos, os resultados.
As informações sobre o que tem ocorrido no mundo dos seguros, chega ao Brasil com uma distorção notável em eventos de grande monta como a Conseguro, realizada pelos seguradores nacionais o mês passado. Ao ter acesso ao conteúdo da íntegra das palestras, pude notar a peculiar visão tupiniquim que se aplica aos modelos internacionais.
É preciso um certo cuidado com as análises de oportunidades de negócios neste mercado, procurando saber exatamente em que critérios estão pautados algumas demonstrações elaboradas pelas próprias companhias ou a seu encargo, ou mesmo pelo órgão regulador. Na mesma linha dos derivativos e operações estruturadas de hedge, que pouquíssimos economistas e especialistas são capazes de definir com clareza e prever seus efeitos danosos por estas bandas, as análises do mercado segurador tem suas peculiaridades, que curiosos e palpiteiros de plantão no mercado de seguros e resseguros não tem a mínima noção. E o diagnóstico é simplório: as melhores cabeças deste mercado sofrem com a hierarquia de suas próprias companhias. Cérebros são contidos e esmagados por hierarquicas panças esféricas executivas, habilmente esculpidas nos melhores restaurantes Brasil a fora, deixando novos conhecimentos à margem, em detrimento da manutenção do status quo reinante dos "cabeças de planilha", com o aval dos acionistas, que provavelmente muito menos, conhecem seguros na sua essência . Afinal banqueiros gostam de dinheiro, não de riscos!
A dinâmica da formação de preços, concorrência, e margem neste mercado guardam a complexidade de algumas operações do mercado financeiro, mas não são arquitetadas com o mesmo requinte técnico, levando a incertezas cada vez maiores. Não há muita lógica em se estruturar preços olhando para o passado sendo que os riscos se multiplicam e se alteram a cada dia.
A expertise em tecnologia da informação levou o mercado financeiro nacional a um patamar de excelência mundial, tendo demonstrado isso na abertura do mercado aos bancos estrangeiros, para aumento de competição, onde mantiveram suas "cabeças de ponte" intactas, preservando as posições de ranking das principais instituições nacionais, frente ao poderio financeiro dos grupos internacionais.
Já no mercado de seguros, a demora no entendimento na necessidade de tecnologia nas operações, a falta de interatividade e objetividade no B2B, a colcha de retalhos de sistemas e processos obsoletos, a inadequação de projetos de B2C, ou mesmo remotamente C2C, desestrutura a capilarização de corretores de seguros e trava o crescimento das vendas. Por sua vez o emergente mercado de resseguros precisa de pelo menos uns cinco anos de maturação e muito trabalho de ordenação jurídica e de desenvolvimento de práticas comerciais, que estão se mostrando complexas.
A simplificação de processos, produtos, cobrança e comunicação e escalabilidade é uma afronta ante aos altos investimentos propagados pelas seguradoras em tecnologia da informação. Para implementação de processos nesta área há necessiadade de amplo conhecimento de mercado, não de renome internacional. Há que se ter credibilidade com milhares de players e não se apresentar como ameaça de extinção de segmentos em desastrosos programas de reengenharia e outsourcing. Estão quebrando ovos demais para um omelete que requer muito menos ingredientes. O resultado é previsível.
Ou este mercado se profissionaliza, ou vai virar mais um reduto político a ser explorado por sucessivos governos despreparados, que continuarão a proporcionar um descompasso entre o mercado financeiro e o mercado de seguros e resseguros. Ou quem sabe mais um departamentozinho sem expressão no organograma dos bancos.
Até quando seremos a ovelha negra do Sistema Financiero Nacional ou base de testes e de formação de políticos em ascenção via barganha política, senhores líderes setoriais?
Está na hora de instaurar o CFN - Conselho Financeiro Nacional, englobando todos os mercados financeiros, de seguros e resseguros, com representantes de notório saber, apoiados por legislações específicas e setoriais, criando as agências reguladoras com profissionais de carreira e mandato, com instrumentos hábeis de controle externo de suas atividades, que tem que estar voltados para resultados para toda a sociedade. Urgem reformas!
Luís Stefano Grigolin, 43, corretor de seguros, consultor e especialista em tecnologia da informação, jornalista, com 29 anos de atuação no mercado de seguros.

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