PL 3555/2004 Câmara dos Deputados Veja a íntegra da audiência pública

domingo, 14 de outubro de 2007

CORRETORES DE SEGUROS: SALVE-SE QUEM PUDER?

Os vampiros profissionais estão à solta. Eles sugam o seu sangue, o seu suor, o seu trabalho, a sua criatividade e depois lhes fecham as portas do mercado com barreiras à entrada bem sutís, como se não fossem eles à elaborar os obstáculos no seu caminho.
Alguns podem achar que é surreal a teoria da conspiração que existe no segmento de corretagem de seguros, mas alguns membros de nossa comunidade definitivamente não estão realmente a nossos serviços. Alguns de nossos parceiros estão usando nossos serviços para aprimorar novas ferramentas de vendas, sem nos remunerar por isso e nos descartar mais à frente. Isso é vero!

Escalabilidade a baixo custo, é isso que procuram através da massificação de produtos e de operações de bankassurance (comercialização de seguros nos balcões bancários e seus canais), ou utilização frenética dos balcões de bancos, muito valorizados em recentes negociações com as seguradoras. As principais seguradoras já se posicionaram atrás de seus balcões. Adianta neste contexto o corretor de seguros se profissionalizar, se qualificar, quando a regra do jogo define os vencedores antecipadamente?
Não espere alterações drásticas neste mercado, as evoluções vão ser cada vez mais lentas e graduais, a criação e inovação vão ser sempre de pequena monta. Não há uma revolução a caminho do mercado segurador. Então cada pequeno detalhe, cada pequena evolução é muito significativa e lucrativa. Portanto, cada vez que você inovar, sem os devidos cuidados, será copiado rapidamente e sua inovação vai ser distribuida pela cadeia produtiva sem cerimônia. Esse o jogo dos seguradores na última década, e quem não respeitou o profissional durante este tempo vai respeitar a comercialização na abertura de uma nova era de transações pelo cyber espaço? Desconfie do seu parceiro se ele disser que a internet não vende seguros. Esse é o próximo passo das companhias!
As diretrizes da classe dos corretores de seguros permanecem as mesmas. Ano após ano, evento após evento, o que observamos é uma subserviência econômica e profissional aos seguradores, o que não nos coloca em condições ideais de negociação de uma aliança estratégica, como deveria ser. Como profissão liberal regulamentada, e com grande parte dos profissionais sendo empresários, mantendo corretoras de seguros pessoas jurídicas, haveria de se esperar um maior profissionalismo no trato da relação com os seguradores. O ápice desta observação pode ser vista nos eventos tradicionais da categoria.
A intermediação de seguros no Brasil é regulamentada. Precisa apenas ser aprimorada, levada às minúcias, aos detalhes. Extratificada, ordenada e enriquecida. Atualizada na questão que define os canais alternativos, telemarketing, venda direta via internet, ampliação de filiais, sucursais e agências. Falta supervisão, falta enquadramento, entendimento, ação, fiscalização e imparcialidade. Falta auto regulação e regulamentação, apesar da montanha de normas produzidas pela SUSEP ( Superintendência de Seguros Privados, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda) e pelo CNSP ( Conselho Nacional de Seguros Privados, também afeto ao Ministério da Fazenda). Falta consenso na categoria que está dividida, infelizmente.
Falta o apoio da única entidade de ensino, a Escola Nacional de Seguros (Funenseg) que apesar de contar com recursos públicos e ser mantida pela Fenacor ( Federação dos Corretores de Seguros) e Fenaseg ( Federação das Seguradoras), agora CNSeg, Confederação Nacional das Seguradoras, praticamente é uma miragem para a maioria dos corretores de seguros, tal a inadequação dos cursos oferecidos e seus custos estratosféricos. A inclinação para a formação de recursos humanos de seguradoras é evidente e já suscitou até a divisão da entidade em duas, o que não é de todo descartado ainda.
É inimaginável que tenhamos neste momento corretores de seguros à frente da Susep, da Fenacor e da Funenseg e passemos por uma dizimação como a que enfrentamos!
A principal premissa da legislação é o entendimento que o consumidor é hiposuficiênte diante das seguradoras, necessitando de um profissional independente capaz de traduzir o segurês, encontrar o melhor custo benefício na contratação e fornecer acompanhamento e defesa dos seus interesses na eventualidade de um sinistro, ou, evento coberto pelo contrato.
Isso requer independência, o profissional corretor de seguros em sua maioria não o é. Temos muitos agentes de companhias. O que não impede o exercício concomitante da corretagem de seguros. O corretor deve se apresentar ao cliente dizendo claramente se está alí representando o seu cliente ou uma determinada companhia. É lícito. E pode ser complementar. É uma exigência que o próprio mercado condiciona, há ramos que não se tem alternativa.
A falta de formalidade na relação do corretor de seguros com as seguradoras veio proporcionando uma espécie de dependência crônica, que hoje se transforma numa fraqueza na negociação entre as partes, para o corretor de seguros.
A cumplicidade no desenvolvimento do mercado de seguros, sem as garantias contratuais adequadas, deixa o corretor de seguros à mercê da boa vontade das seguradoras, do negócio apalavrado e nem sempre levado a efeito. Apesar de ter sido peça fundamental no crescimento e evolução do mercado, hoje o corretor de seguros passa a ser descartável. Depois de depurar os processos e métodos, de prospectar e levar conhecimento a um mercado avesso ao produto, num autêntico processo tentativa- erro, durante anos a fio, definitivamente a tecnologia vem proporcionando um processo de substituição de canais que já está em curso. Basta ver as páginas das principais seguradoras na internet. Já há desenvolvimento superior para o consumidor final do que para a intermediação do corretor de seguros.
Os discursos continuam os mesmos, de parte a parte, dos seguradores e dos líderes classistas. Os seguradores garantindo que o corretor de seguros é elementar, mas em contrapartida sonegando investimentos em tecnologia da informação para a ponta e os dirigentes pregando a qualificação, sem no entanto fornecer os requisitos mínimos estruturais de condições negociais equitativas, o que é pressuposto básico. Promessas, renovadas promessas, políticas cuspidas sem debates de base, minutas de projetos e comissões políticas sem representatividade nenhuma, sem conteúdo e sem perspectivas.
Não há definitivamente nível de qualificação ideal e muito menos universal que seja capaz de contrapor a sobreposição de canais alternativos com a nossa profissão, que possa combater a guerra de preços, a concorrência desleal, sem um projeto de defesa institucional da profissão garantindo contratualmente a relação de intermediação com a indústria. Dizer que o corretor precisa qualificar-se e colocar à disposição o que já se sabe de antemão estar disponível é chover no molhado. Não creia que poderá inovar e se diferenciar sem uma equalização das condições de mercado e uma normatização da comercialização nos seus aspectos negociais de equidade e transparência.
Delegar ao órgão regulador uma tutela da categoria, através de um Código de Ética é sinal de incapacidade na condução das negociações. Falar em regulamentar cooperativas de corretores sem combater o avanço ilegal dos bancos na intermediação é gozação. Principalmente partindo de um ex-integrante da classe que politicamente alçou vôo para a função de regulador.
Agora dizer que 75% dos problemas entre a indústria de seguros e o corretor de seguros estão solucionados, é devaneio puro! Se ouve de tudo nestes congressos, então os corretores fazem ouvidos de mercador para alguns discursos.
Então na verdade temos um salve-se quem puder?
Não necessariamente. Associe-se ao seu sindicato estadual e subverta esta ordenação de prioridades. Questione, discuta e faça valer a sua opinião. Questione seus parceiros seguradores diretamente. Hoje é você , seu colega, um conhecido, eu, amanhã somos nós todos questionando um determinado procedimento. Faça a sua sorte, não espere que isso aconteça por encanto ou osmose. Só conquistaremos nossas reivindicações com muito esforço e luta, não com convescotes e discursos inócuos.
Há uma enorme possibilidade de otimizarmos nossos ganhos frente aos elevados lucros das seguradoras. Precisamos de organização e estratégia. E principalmente a coragem, que tanto tem faltado nas negociações e eventos com nossos supostos parceiros.
Nossos problemas estruturais são de base e de caráter, de uma arquitetura sindical promíscua e remunerada por verbas oriundas das próprias seguradoras, indiretamente. Assim sendo, não se pode esperar nada mais além do que vemos, ou seja , nada!
Ocorre que, ação por omissão ou incompetência, também bloqueia nosso desenvolvimento enquanto categoria, e a ausência de um plano setorial estruturado impede o desenvolvimento individual, através da diferenciação por criatividade. Estamos em um círculo vicioso que exige a participação efetiva de todos. Não adianta tentar se destacar com excelência individual num mercado medíocre. A concorrência predatória se equipara ao esforço de criação, anulando todo empreendimento.
Há interesses inconfessáveis por trás desta inércia e dessa inação nebulosa. Esses interesses não prosperam se não houver vampiros profissionais remunerados entre nós!
Fiquem atentos aos movimentos de concentração e fusão de bancos e seguradoras e conheçam os verdadeiros novos participantes deste mercado. Eles é que determinarão as regras do jogo daqui pra frente, se não formos suficientemente competentes para dar um basta neste avanço ilegal na área de seguros. A tomada especulativa de seguradoras é só uma questão de tempo para grupos financeiros poderosos.
Salvem a sua profissão! Comecemos a nos organizar profissionalmente para o novo mercado! E definitivamente vamos abolir esses convescotes que discutem o nada para lugar nenhum e servem apenas para fazer a plástica e construir uma imagem holográfica para ludibriar corretores incautos.
Luis Stefano Grigolin, 43, corretor de seguros, consultor e especialista em tecnologia da informação, jornalista, com 29 anos de atuação no mercado segurador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Convenção Coletiva de Consumo