PL 3555/2004 Câmara dos Deputados Veja a íntegra da audiência pública

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

TEMPOS MODERNOS

Em Dezembro próximo completo 30 anos de atividades profissionais. O seguro fez parte desta jornada durante todo o tempo. Como todo garoto precoce, daqueles que têm a minha idade, os 13 anos era aguardado como o momento da decisão sobre a sua vida profissional. Mas o que um garoto aficcionado pelo futebol de salão, pela motocicleta, pelas domingueiras do Clube de Regatas Tiête, que ainda curtia um MAD e um Pasquim, madrugando num domingo na banca da esquina, que não dispensava um Dan-Top, um drops Dulcora, uma Coca-Cola, que trazia o Estadão pra casa com umas 250 páginas, a maioria oportunidades de emprego, poderia esperar do seu futuro profissional?

Louco pra parar de filar umas voltinhas nas motos dos colegas, queria comprar minha própria moto, as chegadas 125cc, mas a mesada mal dava para os lanches no Mata Fome, um lanche de bife acebolado que fez história em São Paulo, para quem é da Zona norte, por curiosidade o negócio existe com o nome de " o mesmo" depois de perder o nome para um concorrente que registrou a marca. Mal dava para a entrada da domingueira e para os passeios no Shopping Iguatemi, o único da cidade, na Av. Faria Lima e a comprinha das roupas, porque andar impecável era fundamental. O Shopping Center Norte era o lixão da vila Guilherme, onde era depositado todo o lixo da cidade.

Então com a promessa de ter meu lugar garantido no Banco F.Barreto S/A assim que completasse os 14 anos , não pude esperar e arrumei um emprego com meu tio que tinha uma empresa de informações comerciais, o que é hoje o que se entende por SCPC e Serasa , que nem existiam à época.

Em, questão de meses o meu tão sonhado emprego no banco e logo de saída o contato com o seguro da Cia. Aliança da Bahia, cliente do banco e que usava o balcão como ponto de venda. Seguro de vida em grupo, basicamente como o é ainda hoje.

Passei pela Auxiliar Seguradora do Grupo Bonfiglioli (CICA, lembram dessa marca?) onde tive uma base imensa sobre seguros, como treinee de gerente de produto, BCN Seguradora , Bemge Seguradora, Itaú Seguros, até que resolvi empreender em vôo solo e depois administrar algumas empresas como Mappin, Hermes Macedo, Teletrim, além dos negócios com jeans, materiais elétricos, vendas de consórcios, corretora de seguros, empresa de tecnologia e publicações segmentada na área de seguros.

Durante toda a minha vida profissional colaborei para o crescimento do mercado, a inovação de produtos e serviços, a informação, as tecnicas de venda, toda a minha experiência, criatividade e ousadia, estão neste mercado de forma direta ou indireta.

Mas tenho a nítida impressão que se sabia muito mais sobre seguros do que se tem como conhecimento médio dos atores da corretagem de seguros hoje. As regras de negócios, a taxação, a atuária, a venda consultiva foram muito mais exigidas quando o público em geral não sabia o que era seguro. Hoje o sujeito sabe cotar preço, induzido por anos a fio de venda do "melhor preço". Hoje um consultor de seguros precisa lutar muito para não ser atropelado por um vendedor de "melhor preço". A maioria dos corretores em atividade não conheceram os 32 volumes de tarifas da Editora Manuais Técnicos de Seguros, dos Roncarati. Não conhecem a tarifa de automóveis e não sabem taxar um risco empresarial ou industrial, fazer um croqui, uma inspeção de risco, uma vistoria prévia, uma regulação de sinistros, acompanhar uma perícia de um Falcão Bauer, por exemplo, depois de um incêndio vultoso. Hoje nos tempos modernos há os operadores se sistemas de cálculos, mas sem a experiência de campo. Muita gente não sabe, mas os bancos tiveram papel fundamental na conquista deste mercado, prospectando em lugares inóspitos para a venda de seguros, levando gerenciamento de riscos a empresas, formando profissionais como eu por exemplo. Eu não conheceria seguros, se não fossem os bancos. Aprendi muito operando do lado de dentro de instituições bancárias. Se pude exercer a profissão de corretor de seguros, antes desse mercado se tornar uma guerra generalizada de preços, isto devo às salas de aula e campo na Auxiliar Seguradora e ao querido Vargas diretor de Recursos Humanos, da qual era acionista a BradescoSeguros, do diretor José Henrique Pimentel, hoje na Sul América, a Itaú Seguros que tinha umas propostas mágicas com as regras de negócios e taxação do seguro e suas cláusulas , todas ordenadas e de fácil visualização e elaboração de cálculos e propostas num só formulário, uma coisa brilhante que foi abandonada não sei por qual motivo, poderia ser eletrônica hoje, e a figura de Luiz de Campos Salles, a Unibanco Seguros que elaborou os melhores manuais de produtos para corretores e a figura pragmática de Jose Rudge, e ao dinamismo, coragem e empreendedorismo de Jayme Garfinkel da Porto Seguro, com o qual muito colaborei no desenvolvimento de seus negócios junto a tantos outros corretores valorosos. Não poderia deixar de registrar a convivência com João Bosco de Castro, ex-Internacional Seguros, Fenaseg e Nobre Seguradora, um amigo com o qual troquei experiências sobre este mercado de forma muito proveitosa. Duas gerações, duas cabeças difentes, que se complementaram num grande projeto de tecnologia em seguros. Seria brincadeira relacionar todos os relacionamentos valorosos que mantive neste mercado, mas julguei que elegendo estas personalidades estaria fazendo justiça e ao mesmo tempo uma homenagem pelo meu ângulo de visão deste mercado.

Não poderia deixar de registrar a grande interatividade que pude ter nos últimos dez anos com meu arqui-inimigo político sindical Leôncio de Arruda, com quem tenho uma relação de respeito mútuo, sabendo que ambos crescemos profissionalmente e pessoalmente com nossos embates, e que de certa forma colocamos conhecimento e debate para toda a classe. Talvez pudéssemos ter feito isto de forma mais produtiva e sem desgastes, sem ter criado monstros nas nossas costas, mas a vida toma rumos de acordo com nossas decisões de livre arbítrio momentâneas.
Acho que neste pequeno balanço da minha vida em seguros, possa vislumbrar um caminho novo para o corretor de seguros percorrer. Um caminho que leva a volta ao passado, ao resgate do conhecimento de base, ao aprofundamento das tecnologias, da operação conjunta e de reunião de esforços e competências para fazer frente aos desafios comerciais que se apresentam. Ainda não pusemos a fórmula mágica num só caldeirão, mas tenho a impressão que já temos todos os ingredientes. É só seguir a fórmula de forma adequada e chegaremos a um bom resultado, nestes tempos modernos. A despeito das desistências de milhares de colegas frente aos novos desafios, quero levar uma palavra de esperança aos que persistem. Há uma luz no fim do túnel e não é uma locomotiva em sentido contrário!

Luís Stefano Grigolin, 43, corretor de seguros, consultor e especialista em tecnologia da informação, jornalista, com 29 anos de atuação no mercado segurador.

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