É uma vergonha! Assim diria Boris Casoy ao se manifestar quanto ao alto índice de corrupção ativa e passiva que presenciamos por todos os veículos de comunicação do país, todo santo dia.
Virou coisa tão corriqueira que alguns dos meus pares jornalistas tratam com a maior naturalidade a quebra de preceitos constitucionais e a barganha criminosa entre os poderes. O que é o mensalão diante dessa nomeação gigantesca de gargos de segundo escalão, declaradamente, em troca de posicionamento político diante dos interesses dos governos na preservação da CPMF?
Isso tudo é notícia crime! Cadê a polícia! Mas que polícia?
Como impedir corrupção em um país que as polícias estão sob comando de políticos meliantes? Como impedir tráfico de influência num país onde o presidente da república indica os ocupantes da suprema corte, onde governadores elegem o presidente dos tribunais estaduais, onde o governo amplia os cargos em comissão e loteia a máquina pública, onde o governo leiloa os cargos de segundo , terceiro e primeiro escalão em troca de posições não republicanas de congressistas que por sua vez não deixam escolha, numa visível extorsão à luz do dia?
Cadê a vergonha? Só conseguimos ver a falta dela!
Vivemos um Second Life, onde vale tudo e as regras do jogo são essas. Não são! Estamos tropeçando em crimes, dois pesos e duas medidas, homens públicos fazendo que não enxergam o óbvio, estamos em meio a uma montanha de ilegalidades na política nacional, é uma vergonha!
Estamos entorpecidos e anestesiados com tanta corrupção e impunidade!
Em qualquer país civilizado deste mundo o governo já teria caído, muitos atores estariam atrás das grades. É ridículo assistir a passividade coletiva da sociedade como um todo, e da oposição destruída, refém de suas próprias besteiras, onde o roto não pode falar do rasgado. Não é crível que Renan Calheiros pudesse ter escapado da cassação se ouvessem homens probos, à prova de tudo, dentro do congresso nacional.
Por que a grande imprensa não coloca em letras garrafais a Constituição Federal e as transgressões que implicam essas barganhas escandalosas? Será que é porque dependem dos anúncios das estatais nos seus veículos? Onde está a oposição? Eu me envergonho de participar de um partido de oposição! Eu me envergonho de ser honesto! Eu me envergonho de não seguir o exemplo daquele velhinho que adentrou ao palácio com uma bengala e plantou na cabeça de José Dirceu. É escandalosamente gritante o mar de corrupção neste país!
Se não fosse por uns poucos obstinados e ousados jornalistas perseguidos como Arnaldo Jabor e Sallete Lemos entre outros, e alguns remanescentes homens probos do congresso, estaríamos vivendo um ambiente de "Alice no país das maravilhas".
O presidente da república não deveria estar questionando cadê as provas que incriminam os seus correligionários, deveria estar propondo medidas para achá-las e para restringir novas ações que impedissem a progressão geométrica da corrupção. Cadê as medidas provisórias, as proposições ao congresso do executivo para a desburocratização, controles mais apurados na gestão, para a qualificação de pessoal, para a reforma política e administrativa , para a extinção e redução drástica desses cargos sem concurso público, ocupado por homens de índole duvidosa que promiscuamente os barganham? Então não se pode afirmar que este governo seja sério!
É sério um governo que ajuda a manter um senador aclamadamente descartável pelo povo, é sério um governo que mantém na sua base como líder de governo um representante do partido cujo líder denunciou todo o esquema e o modus operandi do mensalão, e foi cassado por isso, onde acabam de ser indiciados os assessores mais próximos do presidente da república? É sério um governo que tem como Ministro das Relações Institucionais mais um integrante deste partido, acusado agora do mensalão mineiro? É sério um governo que nomeia ao órgão regulador do mercado de seguros e resseguros uma indicação de Roberto Jefferson, que depois de cassado, continua presidente do mesmo partido?
É séria esta entrevista do Presidente da República onde o jornalista do The New York Times ironicamente o chama de "presidente teflon", onde nada gruda? Seria hilário se não fosse trágico.
Será que ele achou charmoso o adjetivo? Ou aceitou o embuste guela a baixo e ainda achou bonito e gostoso!
O presidente tem razão ao não dar entrevistas coletivas a todo instante, pelo menos nos preserva de sua ignorância quanto aos fluxos econômicos internacionais, dizendo que uma crise de proporções planetárias como as de "sub prime" no mercado imobiliário americano não atingiria o Brasil. E também diminui a convicção por parte dos jornalista externos que o presidente não sabia de nada. Eu me incomodo pela desfaçatez do presidente e pela idêntica postura dos jornalistas norte americanos, que tem por hábito um humor refinado, quase imperceptível para quem não conhece o povo norte americano, cuja característica é intrínseca. Isso se torna hilário, lá fora, e é visto como algo que chamamos aqui de "cara de pau", ou "vaselina". A posição do leitor americano a este estado de coisas é a expressão " como pode?" traduzida literalmente!
Mas por aqui acham graça! Não sei de que?
É preciso fazer valer as leis deste país e enquadrar toda esta corrupção sem medo de desestabilização institucional. É tanta corrupção nos três poderes que há na sociedade a angustiante sensação que isso pode acabar demolindo a democracia. Talvez esta a sábia posição da população, que a tudo vê e a tudo se cala. Talvez esperando que hajam soluções e acomodações políticas para os casos de polícia em que se tornaram a insana relação entre os poderes da república, tendo em vista que de dois em dois anos podem corrigir nas urnas.
Que Deus fortaleça este entendimento e que possamos banir mais um monte de inservíveis que ocupam cargos públicos deste nosso país.
Luís Stefano Grigolin, corretor de seguros, consultor e especialista em tecnologia da informação, jornalista, suplente de Deputado Federal pelo PPS e cidadão indignado com maus políticos.